G1 - 04/02/2019
Em entrevista, o professor e sociólogo José Pastore destaca os desafios do ensino superior na contemporaneidade e os impactos dos avanços tecnológicos para a nova dinâmica das relações de trabalho.
Doutor Honoris Causa em Ciência e Ph.D. em sociologia pela University of Wisconsin (EUA), Pastore desenvolve pesquisas e possui mais de 20 obras publicadas nas áreas de trabalho, educação, costumes e instituições sociais.
Atualmente é professor titular da Faculdade de Economia e Administração e da Fundação Instituto de Administração, ambas da Universidade de São Paulo, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e consultor em relações do trabalho e recursos humanos.
Quais os principais desafios do ensino superior no Brasil para os próximos 20 anos?
É difícil dizer quais são os maiores desafios, pois são muito e de natureza variável. Penso, porém, que o maior de todos é o de formar professores bem preparados no conhecimento e na didática para, com isso, entusiasmar os jovens a estudar continuamente.
Muito se tem falado nos últimos anos em novas habilidades e novas competências profissionais, em detrimento de profissões tradicionais. Como os jovens devem buscar a formação profissional diante de tantas indefinições e suposições?
A entrada de novas tecnologias no mundo do trabalho está demandando o domínio de outros conhecimentos. As tecnologias mudam tão depressa que fica difícil para as escolas formarem os profissionais que as dominem. Isso porque o ajuste das escolas às novas demandas tende a ser lento. Demora para mudar um currículo e demora mais ainda retreinar professores. Por isso, grande parte do aprendizado das novas tecnologias se dará no trabalho. Para as universidades é importante entrosar com as empresas para ajudar a formar um ambiente de aprendizagem contínua – para os trabalhadores e para os professores.
Como o senhor avalia o avanço da tecnologia no mercado de trabalho?
As novas tecnologias destroem e criam empregos ao mesmo tempo. Segundo os estudos do World Economic Forum, as novas tecnologias mais criam do que destroem emprego. Ocorre, porém, que elas geram empregos para pessoas que nem sempre estão preparadas para ocupar as novas posições. E isso é um processo e não uma etapa que tenha fim em si mesmo. Daí a necessidade de aprendizagem contínua. Só assim, as pessoas poderão ir se ajustando às mudanças tecnológicas.
Em artigo publicado no Correio Braziliense, o senhor afirma que “sem educação de boa qualidade, é impossível ter êxito na competição mundial”. Na sua opinião, o que é educação de boa qualidade?
A educação de boa qualidade é a que ensina as pessoas a pensarem. O mercado de trabalho dos dias atuais não valoriza diploma e sim a capacidade de dar respostas. Para tanto, o profissional precisa ter bom senso, lógica de raciocínio, capacidade de trabalhar em grupo, capacidade de entender o que lê, ter zelo e amor em tudo o que faz. A educação que passa tais valores às pessoas é de boa qualidade, pois não basta apenas ensinar as profissões.
Até meados da década passada, o senhor tinha uma visão bem otimista em relação ao futuro do ensino profissionalizante. De lá para cá, esse otimismo se fortaleceu ou se arrefeceu? Por quê?
O ensino profissionalizante tem o seu lugar e é de grande importância porque é mais rápido na hora do ajuste. Para as escolas convencionais, é difícil ajustar os currículos e professores às novas demandas. Para as escolas profissionais, isso é mais fácil. Mas, as escolas convencionais têm o importante papel de ensinar a pensar – boa linguagem, matemática, ciências, conhecimento da história, etc.
Alguns consultores, como o publicitário Walter Longo, têm defendido uma forte presença de DNA feminino na gestão de empresas, por considerar que as mulheres, por serem mais digitais, levariam vantagem em relação aos homens, mais analógicos. Como o senhor avalia essa corrente de pensamento?
Não há razão para discriminar mulheres. Mas a discriminação não segue a razão. Segue a emoção e os preconceitos. Infelizmente, as mulheres são preteridas em muitas empresas (do Brasil e do exterior). É uma pena, porque as mulheres vêm brilhando cada vez mais em todas as áreas em que trabalham.
O senhor sempre teve uma posição crítica em relação ao mercado informal. No entanto, o que temos notado é uma queda constante no emprego formal. Como senhor avalia esse assunto hoje, diante da realidade atual?
A queda do formal e a subida do informal decorrem da própria recessão. Na saída das crises, normalmente, as pequenas e médias empresas “tateiam” o mercado contratando na informalidade. Mas isso deve se reverter no momento em que a economia for reativada. Oxalá seja em 2019 ou 2020. O emprego formal sempre é de melhor qualidade e garante as proteções a que os trabalhadores fazer jus e precisam.
(por Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza - UNIFOR)
Fonte: G1
Cláudio Cassola é especialista em segurança e saúde do trabalho e diretor técnico da MAIS SEGURANÇA - segurança do trabalho
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